ROGÉRIO PACHECO
Funcionário público federal. Cursa Direito em Teófilo Otoni, Estado de Minas Gerais, Brasil.
Estudou sem concluir: Química, Administração de Empresas e Matemática.
Em 1983, seu conto "42 Graus" foi classificado em concursos interno da U.F. Viçosa, MG.
Nasceu a 18/01/1957, em Teófilo Otoni, MG.
ESCRITORES BRASILEIROS 1986 - I. Capa e Coordenação Editorial: Christina Oiticica. Rio de Janeiro, RJ: Crisalis Editora, 1986. 120 p.
Ex. doado pelo livreiro José Jorge Leite de Brito.
FLORES DO SERTÃO
— Sertão. Sol. Desencanto.
Caatinga. Desolação.
—Vida abrupta.
Feijão com arroz — amiúde.
Cálido, como tantos
Arasta-se em direção do pau-de-arara
O astuto caburé.
Sua bagagem:
—Um alforge e uma jaqueta de couro
Escanifrados:
— O cão, um filho e a mulher.
Na algibeira, o mesmo cifrão,
No peito o escarro cruento.
No rosto... tristeza... cansaço... solidão.
É dada a partida.
O silêncio adormece em sua face
E dos olhos magros e vazios
Desce uma lágrima.
Apesar dos longos anos em álgida miséria,
É dolorosa a separação da terra natal.
Segue em solavancos o pau-de-arara,
Inconformado, o ardente caburé.
Como tantos semelhantes, procura o Sol alhures
Pra desfazer da roupagem do ano anterior.
O sertão ficou.
Já desliza sobre o asfalto, o pau-de-arara.
Nele, como tantos outros, repleto de ilusões,
O impetuoso caburé.
Surge a cidade grande; ele olha o céu
E acha bonito a fumaça colorida
Se dispersando pelas chaminés das fábricas.
No seu pensamento há água e alimentação
Socorro médico e escola, emprego e habitação.
—Sim. Há abrigo reservado para ele:
— Nos aglomerados dos pardieiros e das favelas.
Há um prédio em construção,
Servente será sua profissão,
Mas há um desequilíbrio
Entre seu corpo desnutrido
E uma lata de concreto.
E em pouco tempo...
Vagará pela selva de pedras.
Haverá somente placas com os dizeres:
"— NÃO HÁ VAGAS."
Mas ele não sabe ler... se aproximará
E o vigia já dirá que não.
Atravessando a avenida e... num espirro
Do seu peito... um escarro sangrento.
Pela necessidade de sobreviver
ele segue em frente.
Vem um silêncio profundo
E um vazio em seu coração.
Exausto, em passos lentos
Ele olha o sol
E percebe que sus pele chora.
Sem consciência, o corpo cai derrotado.
E da calça do mundo
Ele vê o seu Sol morrer aos poucos.
Alguém passa e joga uma flor
Sobre aquele corpo no chão.
— Amargo sonho!
Assim também será o fim,
Do filho e da mulher
De morrerem asfixiado
Sobre o acúmulo de dejetos
Lá na favela.
*
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Página publicada em abril de 2021
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